Vinte e quatro

Depois de vários dias voltei a chorar. Desta vez não foi por um motivo concreto, desta vez simplesmente estava a ouvir uma música demasiado sentimental, ao mesmo tempo lia uma discussão numa rede social onde uma rapariga estava a passar exatamente pelo que eu passei. Ela só queria desabafar, ela só queria um sítio onde podia escrever o que sentia e o que pensava. Porque nós não temos de dizer tudo isso pois não? Por favor, quantas vezes pensamos isto ou aquilo de uma pessoa e quando a conhecemos ela é diferente? Já me aconteceu tantas vezes. Quantas vezes parece-nos uma coisa e rapidamente percebemos que não é assim? Ainda mais vezes. Mas quem disse que isso que rapidamente percebemos que é diferente por minutos não nos atormenta, não nos deixa dormir, não nos deixa estar tranquilos? Era por isso que ela queria um sítio onde podia desabafar e contar o que se passava com ela. Ninguém tinha que levar com as desconfianças dela, que devido a ela ser uma pessoa desconfiada eram muitas. Ninguém tinha que levar com os seus problemas que só tinham a ver com ela, com a sua falta de auto-estima, e com a falta de confiança nela mesma. Foi sempre esse o seu objetivo, desabafar na internet para as pessoas que gostam dela não se fartarem dela com os seus problemas. Ela só queria um sítio onde ela fosse a personagem principal, já que nem na sua vida era. Ela só queria ter uma base quando tudo desabasse. Se calhar, por vezes, entusiasmou-se e escreveu a sua opinião sobre coisas que se pessoas lessem iam levar a peito, mas o objetivo dela foi nunca ninguém que a conhecesse ler aquilo, pessoas do outro lado do mundo, que não a conheciam, que apenas a conheciam pelo que ela escrevia e não pela imagem, era isso que ela queria. O problema dela foi que os amigos que ela considerava verdadeiros também vissem o que ela escrevia. De certa forma para ter uma opinião, e se calhar para mostrar-lhes que ela não era apenas o sorriso que mostrava durante o dia, aliás, que por muitas vezes esse sorriso era uma camuflagem das lágrimas da noite. O problema foi que os amigos também ganharam outros amigos. O problema é que o 10º ano muda-nos tanto, lixa-nos tanto a vida, perdemos amigos, ganhamos outros colegas de turma, tudo muda. E foi esse o problema dela. Amigos dela tornaram-se amigos de outras pessoas também. E ao saber que outras pessoas, por acaso pessoas que ela sabia que não gostavam muito dela, estavam a ocupar o lugar dela, a tornarem-se mais importantes que ela para esses amigos estava a deixá-la com menos confiança nela própria, e nesses amigos também, não eram ciúmes, pelo contrário, ela nunca se sentiu no direito de escolher os amigos dos amigos dela, simplesmente sabia que os amigos também tinham mudado, e não sabia se os amigos ainda eram 100% confiáveis, não por eles, mas pelos seus novos amigos. As desconfianças dela foram-se tornando cada vez maiores como uma bola de neve. Até que ele nem quis saber se os amigos sabiam onde ela desabafava com tudo ou não, simplesmente precisou de libertar o que sentia. E aí foi quando ficou tudo lixado. Umas simples desconfianças passaram a ser a razão de uma zanga. E a zanga foi a razão de tudo o que ela escrevia, tudo o que ela pensava, sentia, e desabafava nesse sítio da internet fosse parar às mãos de pessoas que não gostavam dela. Tudo o que escreveu, desde revoltas por ver pessoas que ela amava mal por causa de outras pessoas mal, opiniões sobre certas coisas, até coisas do dia-a-dia, tudo que podia ser uma insinuação de dizer mal de alguém foi usado contra ela. Ela passou a ser tudo o que na música creep diz "I'm a creep, I'm a weirdo" "What the hell I am doing here/ I dont belong here" "I wanna a perfect soul" e principalmente "I wish I was special". Simplesmente muita gente deixou de gostar dela, e apenas os verdadeiros permaneceram junto a ela. Pessoas que ela nunca pensou que a abandonassem, abandoram-na. Pessoas que já tinham passado por algo parecido com as mesmas pessoas, abandoram-na. O rapaz de quem ela gostava, esse foi o pior de todos, ainda hoje é o dia em que não fala com ela. Ele era o "You are so fucking special " dela, conseguiu tornar-se o maior inimigo e alguém que apenas merece o desprezo dela. E a ele, ela já conseguiu ultrapassar. Ficaram apenas as recordações de conversas e vindas para casa e brincadeiras. Por isso ela vai conseguir ultrapassar tudo, no final vai estar de pé e forte como nunca, e promete que muita gente ainda lhe vai dar razão. E vão apenas ficar recordações de uns dias maus que apenas a fizeram perceber quem é que são os verdadeiros e quem vale a pena.

Quando comecei a escrever não pensei acabar assim, não tinha assunto em concreto sequer, apenas ia falar da falta que aquele rapaz já não me faz, e do facto de já não querer saber se ele respira ou não. Enquanto escrevia isto vi uma pessoa a passar quase pelo menos e acabei por contar o meu segredo, também já estava na hora, preciso de abrir um fase nova na minha vida, quer dizer, vai abrir uma fase nova na minha vida dentro de dias, ou se calhar mesmo horas e assim considero o assunto, o meu outro blog, que foi o causador da "destruição da minha vida", completamente e oficialmente encerrado, apesar de ainda existirem muitas coisas mal explicadas, mas acho que nem vale a pena, porque essas pessoas na altura nem me quiseram ouvir e não. Estou, oficialmente, à espera de receber a minha irmã para abrir, oficialmente, a nova fase da minha vida.

Antes de publicar reli e neste momento estou a chorar a sério. E foi assim que vos contei o meu segredo. E assim encerro uma das piores fases da minha vida, até agora, assim, com uma média com poucas décimas a mais de 14, encerro o meu 10º ano, e assim, encerro a parte má de 2013, porque

Melhores dias virão, tenho a certeza.

Quatro

Mais um dia se passou. Estou de férias mas não o sinto completamente. Preciso de sair, preciso de estar com os verdadeiros, preciso de praia, de piscina, de sol, e preciso de saber as minhas notas deste ano para puder dar o ano letivo 2012/2013 completamente como encerrado. Hoje regressei de mais um treino, mais um treino onde dei tudo por tudo, cheguei a casa e fui imediatamente para a banheira, abri a torneira da água fria e deixei-me ficar submersa pela água, fechei os olhos e tentei repetir na minha cabeça os passos novos que hoje aprendi para os ir fixando aos poucos. Porém não me consegui concentrar, a minha concentração mais uma vez foi para um lugar imaginário.
Algum de vocês já quis começar tudo de novo? Já quis andar um ano para trás e mudar certas coisas? Foi o que me aconteceu. Daria tudo para voltar ao dia do baile de finalistas no ano passado, ou ao dia do exame de matemática, ou ao dia em que sabia o resultado dos exames, e desde aí mudava tanta coisa. Punha logo na cabeça que tinha de esquecer o rapaz de quem gostava, talvez assim desse a oportunidade que devia ter dado ao rapaz que se seguiu, talvez não o tivesse feito esperar tanto, talvez ele não tivesse desistido de mim, talvez eu não me arrependesse imediatamente no segundo seguinte a ele dizer-me "precisamos de um tempo", talvez ele e eu ainda namorássemos, talvez assim eu podia tê-lo apoiado num dos piores dias da vida dele, talvez assim não existisse a necessidade das bebedeiras e das drogas por parte dele, talvez assim não existisse o amor intelectual, nem a necessidade de desabafar tanto com a "amiga" que me desiludiu, nem a necessidade de lhe confiar o meu segredo, talvez assim me mantivesse SEMPRE perto dos verdadeiros, porque eu sei que ele ia insistir nisso, eu sei que ele além de namorado ia ser melhor amigo, e assim talvez o desvendar do meu segredo não houvesse, ou que simplesmente não fosse tão sentido por mim. Ele não é o rapaz de quem gosto, se calhar nunca gostei a sério. Ele não tinha os mesmos gostos que eu, nem conversas longas e interessantes sobre assuntos sérios e cómicos ao mesmo tempo. No entanto aprendi tanto com ele. No entanto era ele que aparecia quando eu estava mesmo lá no fundo, quando estava prestes a deitar lágrimas. Era ele que aparecia, nunca soube bem de onde, e que me fazia sorrir e esquecer os problemas por segundos. Podíamos ter passado meses sem falar, mas ele tinha esse poder. Tinha e continua a ter. E eu por ter medo e querer ser moralmente correta perdi a oportunidade que ele me deu de ser feliz. E agora estou a bater lá no fundo.
Algum de vocês já quis começar tudo de novo? Já quis mudar tudo? Permanecerem apenas os verdadeiros? Sinto-me completamente assim. Sinto que este já não é o meu curso. Sinto que devia tentar outro. Sinto que devia mudar tudo. Sinto que devia mudar de escola, conhecer pessoas novas, aplicar-me a sério nos estudos, e estar com as bichas do costume ao sábado à noite. Isso era qualquer coisa perfeita. Aqui toda a gente sabe quem é quem, e quem fez o quê, já toda a escola deve saber do meu segredo e eu não quero sequer pensar como vai ser regressar à escola no próximo ano. Não vou suportar simplesmente. Apesar de as coisas já não estarem tão más, mas estou farta das pessoas mesquinhas e egoístas daqui.
Para mim uma destas realidades era o suficiente para me deixar bem.
Depois precisava de música, lembrar-me dele a cantar, das músicas dele foi o suficiente. Mais lembranças  de conversas e momentos vieram. É impressionante o quão bem ele e as pessoas no geral se davam comigo e com a minha malta. OMD ele tinha tudo, e tem, para caso voltassem a haver conflitos como houveram há mais de 2 anos para ficar do mesmo lado que eu. Aliás, poucos são os amigos dele que estão do outro lado.E ele nesta história toda foi o mais usado, o mais "bonequinho" nas mãos delas e é impressionante como continua a ser. E eu ainda o considerava inteligente, mas assim maior será a queda.
 E eu realmente tinha algum poder naquela turma e o desvendar do meu segredo foi para mo tirar e passar para as do costume. E conseguiram.
Conseguiram, por enquanto.

Dois

No passado sábado fez exatamente um mês que tudo começou, ou que tudo acabou, que tudo mudou mais corretamente. Cometi o erro de confiar na pessoa errada o meu maior segredo e acabei por arcar com as consequências, mas prefiro esquecer isso, isso fica para outro dia. Sendo este o meu primeiro post devia fazer uma apresentação do blog certo? Aqui vou apenas desabafar.Hoje vi um filme, um dos típicos filmes que eu sei que ele veria e mais tarde viria falar comigo. Relembrei-me do que aconteceu antes de tudo acontecer e antes do meu segredo ser revelado. Relembrei-me daquele intervalo que estivemos só os dois a falar sobre um filme que eu tinha começado a ver e lhe tinha aconselhado e que ele acabou por vê-lo mais rapidamente que eu. Relembrei-me de quando eu ficava sozinha por causa das minhas “amigas” não gostarem do meu segredo ele por vezes ainda vinha ter comigo. Relembrei-me dos nossos gostos em comum. Relembrei-me do facto de parecermos feitos um para o outro. Relembrei-me de tudo. Desde o início. Desde eu negar que não gostava dele, afinal eu não podia, e se não gostasse dele o meu segredo continuava segredo. *Impressionante como as minhas bichas sempre souberam a verdade, souberam que ele desde o início me despertou um interesse, souberam que eu estava carente, souberam que eu ia acabar por não lhe resistir* Passando pelas nossas conversas sobre os nossos gostos, sobre tudo. Passando também pelos momentos em que eu o via com as outras e dizia para mim mesma “esquece-o, vocês são diferentes, simplesmente não resulta”. Até ao dia em que o meu segredo foi revelado para toda a gente, em que ele deixou de me falar com e sem motivos. Em que ele riu-se na minha cara. Em que ele assistiu ao espetáculo todo. Em que ele soube, não por mim, que eu gostava dele. Por fim relembrei-me de quando ele na semana seguinte voltou-me a dirigir a palavra. Dele no último dia de aulas estar a cantar e nesse mesmo dia de eu estar a jogar snooker e quase lhe acertar, por duas vezes, com a bola, ou com o taco num sítio perigoso para os rapazes. E apenas recordei do último dia em que estive com ele, ao que eu chamaria, a viagem da minha vida, fica também para outro dia. Mal falamos, houveram umas 5 trocas de palavras, nem isso, mas ele voltou a tratar-me pelo nome que me tratava antes, não é um nome fofo nem nada que se pareça, mas durante meses eu fiquei iludida com aquela forma de ele me chamar.
Hoje voltei a passar a passadeira que costumava passar com ele, senti saudades, mas um dia vou deixar de sentir, pois com o tempo as coisas mudam, ele foi apenas mais uma desilusão. Não quero gostar dele, isto se alguma vez gostei, pois o que sentia por ele sempre foi diferente do que antes tinha sentido por outros rapazes. Foi mais um amor intelectual (irónico, das primeiras coisas que ele me disse foi que eu tinha um ar intelectual) pelos gostos em comum, por gostar das nossas conversas, por me identificar muito com ele, por ele ser inteligente. Não sei se gosto a sério dele. Só sei que não quero gostar.